Patacoadas publicitárias
- Paulo Ferreira
- 30 de out. de 2017
- 2 min de leitura
Das muitas memórias que guardo dos anos que trabalhei como editor na Divisão Jovem da Edimpresa (atual Impresa), a criação de páginas de publicidade ocupa um lugar de destaque. Afinal, era um momento criativo por excelência.

Apesar de estimulante, recordo que era também um trabalho feito em contra relógio pela pouca disponibilidade do paginador para conceber este tipo de materiais. A balonagem (legendagem), a adaptação de modelos gráficos e a concepção de capas não deixavam muito tempo livre para outras tarefas, pelo que tive de optimizar o “processo criativo” para não comprometer os trabalhos em curso.

Começava por escolher uma história ou uma publicação que, a meu ver, merecia essa atenção. Seleccionava algumas imagens, escrevia um pequeno texto e tentava quase sempre rabiscar um esboço do que tinha em mente para “inspirar” a paginadora... Algumas horas depois, a obra nascia!

Após a revisão de texto e uma ou outra afinação gráfica, a página era enviada à Disney para aprovação, que a breve trecho concordava com a publicação da mesma. Raramente vimos o nosso material ser recusado por não estar em conformidade com as regras da Disney.
Outro pormenor era o nome dado a estas páginas: “mídias internas”, isto porque se tratava de publicidade (quase sempre) restrito ao universo das publicações infanto-juvenis da Edimpresa.
Mostro aqui algumas das publicidades que criei ao longo dos anos e duas “estreias”. Ambos são anúncios que nunca viram a luz do dia porque não foram ao encontro da preferência e gosto da Direcção.
A primeira trata-se de um anúncio a uma nova publicação de BD Disney, intitulada Disney Mania. Inicialmente imaginei uma versão ligeira da revista italiana Zio Paperone. Além de BD, esta revista incluiria entrevistas, curiosidades, entre outros artigos editoriais. No fundo quis piscar o olho a leitores mais velhos e a interessados pela 9ª arte.
O conceito esboroou quase na fase embrionária (mais tarde hei-de voltar a este assunto), mas antes disso quis passar a mensagem de que esta revista iria ser algo original. Mostrei apenas o logótipo da revista e duas pequenas frases apelativas. Creio que imagem fala por si.
Passados estes anos, reconheço que foi um excesso de minimalismo. Nem sempre menos é mais!

A segunda, mais genérica, é aplicável a todo o universo da BD Disney. Trata-se de um “decalque” à revista Caras. Imaginei as bizantinices da imprensa cor de rosa com personagens Disney. Se hoje em dia é banal este tipo de brincadeiras, há 20 anos senti que foi algo refrescante. Pelo menos naquela “casa”, fiquei com a impressão de ser inaudito.
A redacção Infanto-Juvenil estava debaixo do mesmo tecto da Caras. Éramos portanto, colegas e vizinhos. Nada podia correr mal... Errado! O meu bom senso disse-me para mostrar esta proposta de publicidade à directora editorial, cujas funções de chefia se estendiam às publicações femininas, incluindo a Caras. Esta colega, sra. F. , teve uma reacção assaz expressiva. Imagino que deve ter sido a primeira vez em Portugal que alguém pensou “WTF!?” Ainda hoje não sei se aquele esgar foi de repulsa ou de incredulidade, mas só me lembro de um “Ai isso não! Nem pensar!” ou algo do género.
Não quero terminar este apontamento sem agradecer aos colegas que tornaram possível estes trabalhos, especialmente à Ana Mesquita e ao Jorge Barradas, os meus parceiros principais nestas aventuras Disney.
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